Niterói, a Vila Real da Praia Grande
Niterói já foi a capital do estado do Rio, mas ainda é uma das mais importantes cidades de nosso estado.
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Acervo Internet |
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Pedra de Itapuca e ao fundo, o bairro e a praia de Icaraí. |
Tudo isso começou em janeiro de 1502, quando André Gonçalves e sua expedição aportou a Guanabara e expulsou os Tamoios, os defensores dos territórios marginais da Guanabara, com a ajuda da tribo inimiga chefiada por Araribóia, “o cobra feroz”.
Araribóia era cacique dos Temiminós quando os franceses, com o apoio dos Tamoios, tomaram o controle da Guanabara, na então Capitania do Riode Janeiro, em 1555. Tendo perdido as suas terras, o cacique e sua tribo seguiram para a então Capitania do Espírito Santo, onde reorganizaram a suaaldeia e expulsaram alguns holandeses.
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Mem de Sá em óleo sobre tela do século XX (Crédito: Manoel Victor Filho) |
Quando a Coroa de Portugal enviou ao Brasil o seu terceiro Governador-geral, Mem de Sá, com um contingente de soldados bem armados para retomar a Guanabara aos franceses, os portugueses estabeleceram aliança com Araribóia, conseguindo desse modo reforçar os seus efetivos em cerca de oito mil homens, indígenas conhecedores do território e inimigos dos Tamoios.
O confronto mais violento ocorreu em Uruçumirim, onde os invasores estavam aquartelados. Galgando penhascos, Araribóia foi o primeiro a entrarno baluarte inimigo. Empunhava uma tocha, com a qual explodiu o paiol de pólvora e abriu caminho para o ataque.
Durante a luta, uma flecha envenenada raspou o rosto de Estácio de Sá, que morreu posteriormente, vítima de infecção.
Em episódio com contornos de lenda, Araribóia teria atravessado as águas da baía a nado para liderar o assalto ao Forte Coligny, feito decisivo na derrota aos franceses. O fato é que, com o seu apoio, a operação portuguesa contra os franceses foi coroada de sucesso, tendo os portugueses recuperado o controle sobre a baía de Guanabara, fundando mais tarde a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro.
Após a derrota dos Tamoios, como recompensa pelos seus feitos, Araribóia recebeu da Coroa Portuguesa a sesmaria de Niterói (em língua tupi, “água escondida”). Converteu-se ao cristianismo e adotou o nome de Martim Afonso, em homenagem a Martim Afonso de Sousa.
Terminou os seus dias em conflito com o novo Governador-geral da Repartição Sul do Estado do Brasil (com sede no Rio de Janeiro), o Dr. António de Salema (1575-1577). Na cerimônia oficial de posse, tendo Araribóia se deslocado de Niterói até ao Rio de Janeiro, sentou-se à moda indígena (com o tronco sobre as pernas cruzadas).
O fato veio a desagradar o Governador, que o repreendeu. Araribóia rebateu tal repreensão retrucando: “Minhas pernas estão cansadas de tanto lutar pelo seu Rei, por isto eu as cruzo ao sentar-me, se assim o incomodo, não mais virei aqui!”
O idoso cacique voltou para a sesmaria de Niterói não mais tendo retornado ao Rio de Janeiro. Por incrível que pareça, segundo informa o “Dicionário de curiosidades do Rio de Janeiro”, morreu afogado nas proximidades da ilha de Mocanguê-mirim, ainda em 1574.
Araribóia, ou melhor dizendo, Martim Afonso de Sousa recebeu da Coroa Portuguesa o controle das terras marginais da Guanabara. Mas em 1560 e 1565, recebeu as sesmarias de Marins Coutinho, provedor da Fazenda Real no Rio de Janeiro e de Pero Martins Namorado e José Adorno.
Essas terras incorporavam o território de São Lourenço e de Caraí (Icaraí) e começava em Gragoatá e rumava até Maruí, onde se iniciava outra sesmaria: asesmaria que era de Mem de Sá, que em posse solene efetivou a doação de sua sesmaria a Araribóia em 22 de novembro de 1573 com a presença do governador Cristóvão de Barros.
Araribóia e sua tribo se instalaram na Aldeia de São Lourenço, na encosta do morro de mesmo nome, onde foram construídas as primeiras choupanas e a primeira capela edificada na localidade. Mas tanta terra na mão de uma pessoa só atiçou o interesse dos aventureiros que desejavam roubar as terras dos Tupiminós. Em 1589 o chefe Araribóia falecia e deixava a tribo sem um líder, que sofria ataques dos aventureiros e exploradores.
Foi constatada com o passar do tempo a decadência da Aldeia de São Lourenço, que era o contraste das outras regiões, que passavam por uma próspera fase. Surgiram povoados nas regiões de São Domingos, São Gonçalo, São Francisco, Jurujuba, Itaipu, Praia Grande, Maruí, Icaraí e outras regiões que incentivavam o cultivo da lavouras e criavam condições necessárias para o surgimento de pequenas indústrias. E ao mesmo tempo, surgiam mais sesmarias.
A freguesia da Vila Real da Praia Grande, criada em 1696, passava por um processo de desenvolvimento muito grande por volta do século XVIII, quando se percebia um progresso econômico em maiores proporções na área industrial e no comércio. O transporte de gêneros alimentícios e passageiros era favorecido devido a integração entre os portos de várias freguesias e a cidade do Rio de Janeiro, dando uma movimentação incomum ao litoral.
A visita do Rei
Em 13 de maio de 1816, D. João VI veio passar o seu aniversário em São Domingos, fato esse que agitou a freguesia da Vila Real da Praia Grande: A presença da nobreza e as demonstrações militares da Divisão de Voluntários Reais e da tropa aquartelada para proteger o rei, animavam o povo.
Pela demonstração de apreço e carinho pela sua presença, em 11 de agosto de 1819 a freguesia se separava da cidade do Rio de Janeiro e passava a ser Vila, com sede em São Domingos da Praia Grande. Houve uma grande cerimônia para celebrar a instalação da nova vila.
O primeiro juiz-de-fora nomeado para administrar a vila, o Dr. José Clemente Pereira, mostrou o que viria para este lugar: Uma nova era de progresso. Foi elaborado um plano de urbanização para as freguesias de São Lourenço e São João. Dois anos depois de sua posse, João Clemente deixava a vila com uma população de 5.015 habitantes e 747 casas.
A Vila se torna cidade e muda de nome
Em 12 de agosto de 1834, a cidade do Rio de Janeiro adquire status de Município Neutro tendo administração e autonomia própria. Para tanto, foi formada na vila a primeira Assembléia Provincial convocada pelo presidente da Província, o Sr. Joaquim José Rodrigues Torres (Futuro Visconde de Itaboraí).
Estavam entre os convocados Evaristo da Veiga, Gonçalves Ledo, José Clemente Pereira, Francisco das Chagas Werneck, Caldas Viana e Paulino José Soares de Sousa (O futuro Visconde de Uruguai). Todos estes, juntos com o Joaquim José Torres, deveriam dar a necessária organização para a administração da Província do Rio de Janeiro.
E uma das primeiras providências foi a constituição da Capital da província. E a escolhida foi a Vila Real da Praia Grande, que pela Lei n° 2, de 26 de março de 1835 foi elevada a capital do estado e pela Lei n° 6 de 28 de março do mesmo ano foi consagrada com o topônimo “NITERÓI”, que em tupi-guarani, significa “Água Escondida”.
E sobre essa água escondida, muita coisa ainda tinha para acontecer.
Por Luiz Antonio Doria, com informações do IBGE e do Wikipedia
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