Petrópolis, a Cidade Imperial: O Palácio Quitandinha
Quando se fala em cassinos, a imagem que vem a mente são os majestosos cassinos de Las Vegas ou os cassinos europeus. Dentre eles podemos citar os estabelecimentos existentes em Portugal, Holanda, Mônaco, San Remo…entre outros.
E no Brasil? Hoje estes estabelecimentos destinados ao jogo de azar são proibidos. É verdade que um ou outro é fechado pela Polícia…mas houve um tempo em que os jogos de azar eram permitidos e os cassinos eram as casas de show e por elas desfilavam a “high society” de uma época. Os jogos de azar eram permitidos desde o império e foram proibidos no início da República. Mas Getúlio Vargas revogou a proibição em 1934.
Existiram cassinos na outrora Capital Federal (Quem não se lembra do Cassino da Urca?), o Rio de Janeiro, na mineira Poços de Caldas e em Petrópolis. Mais precisamente no atual bairro Quitandinha, existia um desses templos cujo deus era a roleta, os dados e o carteado valendo altas apostas.
O Palácio Quitandinha, nos áureos tempos em que funcionava como cassino e hotel. Divulgação por Jorge A.Ferreira Jr.
O Palácio Quitandinha foi idealizado por Joaquim Rolla para ser o maior cassino hotel da América Latina. Em sua arquitetura se encontram as influências vindas de hollywood e da colonização alemã. Com cinquenta mil metros quadrados e seis andares, cada um com 440 apartamentos e 13 grandes salões (Sendo que um destes, o Salão Mauá, é considerada a segunda maior cúpula do mundo com trinta metros de altura e cinquenta metros de diâmetro) com até dez metros de altura.
Por estes salões passaram e desfilaram estrelas como Errol Flynn, Orson Welles, Lana Turner, Henry Fonda, Maurice Chevalier, Greta Garbo, Carmen Miranda,Walt Disney, Bing Crosby e até um rei destronado (Carol II da Romênia). E políticos como Getúlio Vargas e Evita Perón, quando da Conferência Interamericana de 1946.
Em suas dependências ocorreu a assinatura da declaração de guerra dos países americanos ao Potências do Eixo, durante a Segunda Guerra Mundial. Realizou-se também, em 1957, a 16ª Conferência Mundial de Bandeirantes, que contou com representantes de 23 países Associados à WAGGGS (Word Association of Girl Guides and Girl Scouts).
O seu lago possui em toda a sua extensão o formato do mapa do Brasil. De água corrente com fonte de renovação e fundo de lajotas, possui uma torre farol em homenagem ao Norte Brasileiro, mais precisamente a Ilha de Marajó.
Mas toda essa imponência e grandiosidade não foi suficiente para que o presidente Eurico Gaspar Dutra decretasse a proibição do jogo no Brasil, por influência de sua esposa, em 30 de maio de 1946. Em 1963, não conseguindo fazer com que o Quitandinha vivesse apenas como hotel, Joaquim Rolla vende os apartamentos do Quitandinha fazendo deste um dos maiores clubes do mundo e lucrando com o “milagre econômico” dos anos setenta, época em que Médici estava no poder.
Embora não tenha conseguido se manter por vender muitos títulos de sócios remido(sócios fixos sem pagar mensalidade), Joaquim perdeu o lucro que ganhava mensalmente. É interessante destacarmos que outro fato que agravou o clube foi o surgimento da inflação no Brasil e do aumento dos turistas no litoral fluminense (Cabo Frio, Armação dos Búzios), que foi determinante para uma maior redução do número de sócios pagantes.
Com os fatos citados o clube não se manteve, pelo alto custo do então clube mais caro da América Latina(quase 100% frequentado por cariocas). O Palacio Quintandinha ainda é conhecido como o maior e mais legítimo palácio do Brasil e ao lado do Colón (Uruguay) como os maiores da América Latina.
Fotografia de divulgação da Salutaris por ocasião da inauguração da linha Petrópolis x São Paulo. Acervo de Jorge Ferreira Jr.
O edifício está rodeado por uma varanda de 150m de comprimento. No grande piso encontra-se mármore de procedência nacional e de Carrara com detalhes em granito preto. No espaço encontramos gigantescos lustres.
Na decoração da Biblioteca encontramos piso em parquê, grande candelabro de bronze com pingentes de cristais de Bacará, localizado de forma estratégica de modo que a luz refletida no espelho contribui para iluminação do espaço.
Os ambientes internos assim como os mobiliários, estamparia e objetos de decoração foram desenvolvidos por Dorothy Draper, a mesma que assinava os cenários de Hollywood na década de 40. Segue referência ao estilo rococó, que pode ser observado em suas curvas, ondas e florões, sob os padrões da belle epoque (era do ouro e da beleza que teve inicio na França no final do século XIX). Uma peculiaridade de sua decoração é que os espaços são únicos, com características próprias.
Em 1991, foi tombado pelo INEPAC. E em 2007, o Quitandinha foi adquirido pelo SESC e em 2023 foi inaugurado o Centro Cultural Quitandinha.
Obrigado pela sua visita. Abraço e tudo de bom!
Texto de Luiz Antonio Doria e Jorge A. Ferreira Jr.
Fotos do acervo de Jorge A. Ferreira Jr.
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